JS 7 - um profeta hermético

JOSEPH SMITH - UM PROFETA HERMÉTICO

Por Lance S, Owens - em http://www.gnosis.org/ahp.htm

A história de Smith, mostrando-o como um profeta puro, um instrumento na mão de Deus, que foi martirizado por defender a verdade, é amplamente canonizada em relatos publicados pela igreja SUD. Mas há um outro lado da história que tem emergido.

No início dos anos de 1980, uma série de acontecimentos bizarros chamaram a atenção para vários outros fatos ainda mais curiosos - elementos nunca antes narrados sobre a história de Joseph Smith. Naquela década, um obscuro comerciante de livros em Salt Lake, chamado Mark Hofmann, começou a desenterrar uma série de documentos desconhecidos e relacionadas ao início da história do mormonismo. Gordon B. Hinckley, e o presidente Spencer W. Kimball aceitaram comprar vários destes documentos, que provavelmente somaram cerca de 60 mil dólares. [1]

Dentre eles estava uma carta, supostamente escrita em 1830, por um dos primeiros discípulos de Joseph. Cheio de referências a tesouros e encantamentos, a carta explicava como Joseph Smith obteve o Livro de Mórmon - não de um anjo, mas de uma salamandra mágica branca, que transfigurou-se em um espírito. Quando divulgada publicamente em 1985, a "Carta  da Salamandra" - como ficou conhecida - recebeu destaque na mídia nacional, e estimulou uma intensa atividade em grupos de estudo do mormonismo.

Desestabilizada pela publicidade prejudicial trazida pela carta, as autoridades da Igreja mórmon compraram esta carta e começaram a negociar com Hofmann a compra de outros materiais "recém descobertos", especialmente as que poderiam contrariar as versões ortodoxa de sua história. Estas negociações secretas e altamente irregulares foram tragicamente desvendadas após uma mulher e um historiador Mórmon, envolvido nestas negociações, serem vítimas de um assassinato com a explosão de uma bomba. Complexas investigações forenses giraram em torno do assassinato e finalmente revelaram que a "Carta da Salamandra" e vários documentos eram falsos - todas criações do patologico Hofmann, um mestre em falsificação que se tornou assassino. [2]

Até então, no entanto, vários historiadores já haviam se comprometido em detalhadas reavaliações da história de Smith, concentrando-se em associações que ele poderia ter tido com coisas mágicas. Ironicamente, os pesquisadores logo trouxeram à tona uma grande riqueza de evidências históricas indiscutivelmente verdadeiras – muitas delas há tempos disponíveis, mas mal compreendidas, suprimidas ou ignoradas - comprovando que Smith e seus primeiros seguidores tinha vários envolvimentos com magia, maçonaria irregular, e tradições geralmente denominadas ocultismo. Apesar de muito trabalho ainda estar "em andamento", a história de Joseph Smith está agora sendo vista em uma forma inteiramente nova e pouco ortodoxa. [3]


No início de sua adolescência, Joseph foi reconhecido por outras pessoas por ter capacidades paranormais, e entre 1822 e 1827 ele foi contratado para atuar como "vidente" para vários grupos envolvidos na escavação do tesouros. Não só ele possuía uma “pedra de vidente" (foto acima), onde ele olhava e encontrava coisas perdidas ou escondidas na terra, mas também tornou-se evidente que essa mesma pedra foi provavelmente o "Urim e Tumim", posteriormente usada para "traduzir" a maior parte do Livro de Mórmon (veja mais detalhes AQUI).

De acordo com relatos da época da “tradução” do livro, Joseph colocava a sua pedra de vidente dentro do chapéu e, em seguida inclinava-se para a frente, com os cotovelos sobre os joelhos, e o rosto enterrado no chapéu. Contemplando a pedra, enquanto nessa postura, ele visualizava e ditava as palavras para um escriba sentado nas proximidades. Esta fora exatamente a forma com que ele procurava os tesouros escondidos.

As atividades das escavações de tesouro também envolviam rituais mágicos, e é provável que Joseph Smith era conhecedor, ao menos dos rudimentos de magias cerimoniais durante a sua adolescência.

Um possível mentor de ocultismo do jovem Smith também foi identificado - um médico chamado Dr. Luman Walter. Walter era um primo distante da futura esposa de Smith e um membro do círculo de Smith associado às buscas de tesouros. Por relatos contemporâneos, ele não era apenas um médico, mas um mágico e hipnotizador que havia viajado extensivamente pela Europa para obter a "aprendizagem profunda" - provavelmente incluindo o conhecimento da alquimia, da medicina de Paracelcius e da sabedoria hermética.


Outras evidências foram adicionadas à este cenário. Três pergaminhos muito curiosos (foto de um deles à esquerda) e um punhal possuído pelo irmão de Joseph Smith, Hyrum, foram cuidadosamente preservados por seus descendentes como relíquias sagradas, transmitidas do filho mais velho para o filho mais velho após sua morte. A tradição da família afirmava que estes eram objetos religiosos, usados de alguma forma por Hyrum e Joseph. Quando finalmente foi permitido que pessoas fora da família os examinassem, estes foram reconhecidos como instrumentos de uma cerimôbia mágica.

O punhal tem o selo de Marte. Os três pergaminhos, cada um aparentemente destinado a uma diferente operação mágica, estão inscritos com uma variedade de símbolos mágicos e imagens.


Outra relíquia também ficou em evidência: um “medalhão de prata", que foi identificado como um talismã (foto ao lado). Este era de propriedade de Joseph Smith, e fora unclusive usado por ele no momento de seu assassinato, na cadeia de Carthage. Na sua frente e costas estão gravados um quadrado mágico e o selo de Júpiter, a força astrológica associada ao ano do nascimento de Joseph Smith. Todos esses itens poderiam ter sido fabricados baseados nos textos-padrão de cerimoniais mágicos, todos disponíveis no final do século XVIII e início do século XIX: A Filosofia Oculta de Agrippa, As Ciências Ocultas de Sibly, e Barrett, o Mago.

À esta luz, a visita do anjo Moroni assumiu aspectos inusitados. O anjo apareceu na noite do equinócio do outono, entre meia-noite e a madrugada - horário propício para uma invocação mágica. No dia do equinócio, Joseph já havia feito suas quatro visitas anuais ao morro. Quando ele finalmente pegou as placas, na noite do equinócio, na primeira hora após a meia-noite.

Algumas citações afirmam que ele tinha sido obrigado a levar com ele naquela noite uma consorte (sua esposa), que montasse um cavalo preto e se vestisse de preto - todos os requisitos condicionados à uma operação mágica.

Os historiadores ficaram intrigados sobre como unir estas informações com a história comumente relatada de Smith. Os pergaminhos mágicos tinham sido usados para invocar o Anjo Moroni ou outro os outros visitantes angélicos vistos por Joseph? E acima de tudo, como é que isto se relacionaria ao conteúdo doutrinário e evolução do mormonismo, que eram aparentemente desprovidos de um conteúdo mágico?

Enquanto a magia cerimonial era praticamente desconhecida - ou pelo menos, pouco documentada - elementos com aspectos ocultos eram abertamente evidentes no mormonismo. A mais óbvia era sua ligação irregular com a maçonaria. Em 1842, dois anos antes de sua morte, Joseph tinha abraçado a Maçonaria. Mas, muito antes de sua própria iniciação como maçom em Nauvoo, ele havia viajado em companhia de maçons - uma sociedade que incluía, entre outros proeminentes discípulos, Brigham Young. Sua primeira conexão com o ofício provavelmente veio com seu irmão Hyrum. Ele fora iniciado como maçom por volta de 1826, pouco antes de Joseph começar a trabalhar no livro de mórmon.[4]

Algum tempo antes de 1826, Joseph pode ter tido contato com uma figura maçônica historicamente importante, o capitão William Morgan. Morgan publicou o primeiro livro com identificação do autor, com a exposição dos ritos maçônicos em Batavia, Nova Iorque, em 1826. O seu desaparecimento (e morte assumida) pouco antes da impressão do livro foi considerado um ato de vingança maçônico e desencadeou uma onda nacional de luta feroz contra os maçonicos.

Dada à proximidade geográfica - eles viviam cerca de 20 quilômetros de distância - é perfeitamente possível que Morgan e Smith tenham se encontrado. Um historiador maçônico do século XIX sugeriu inclusive que Smith havia influenciado Morgan.

Curiosamente, em 1834, a viúva de William Morgan, Lucinda, converteu-se ao mormonismo, juntamente com seu segundo marido, George Washington Harris. Harris também era maçom e ex-associado de William Morgan. Joseph Smith tornou-se bem familiarizado com George e Lucinda em torno de 1836, e algum tempo depois, ele entrou em um relacionamento íntimo com Lucinda. Eventualmente, Lucinda se tornou uma de suas “esposas espirituais"- uma relação que evoluiu plenamente, apesar dela ainda estar casada com Harris.

A relação do profeta com a maçonaria após 1841 tornou-se extremamente complexa. Em junho de 1841, começaram os esforços para estabelecer uma loja maçônica em Nauvoo, e alguns meses depois, uma autorização para o Lodge foi concedida. Em 15 de março de 1842, a loja foi instalada, e que à noite Joseph Smith foi iniciado. No dia seguinte ele foi  elevado ao grau de Mestre Maçom.

Dois dias depois, Smith organizou a "Sociedade de Socorro Feminina ", talvez pretendendo que fosse uma auxiliar Maçônica, ou o início de uma nova maçonaria andrógina mórmon. Eventualmente, toda a dirigente da Sociedade de Socorro também se tornava uma esposa espiritual e consorte de Joseph, com sua primeira esposa Emma na qualidade de presidente da Sociedade (uma situação complicada pelo fato de que Emma não entender/aceitar o relacionamento de Joseph com as outras mulheres).

Estes três últimos anos antes de seu assassinato foram sem dúvida o período mais criativo de sua vida. Pouco depois de sua iniciação maçônica, Smith começou a formular os rituais que seria instituídos no templo da igreja mórmon, ainda em fases iniciais de construção, em Nauvoo.


Seis semanas depois, uma primeira versão do “endowment" (como o ritual foi posteriormente chamado) foi dada por Joseph à uma "Ordem Sagrada" com nove discípulos, todos eles mestres maçons. Muitos elementos do ritual do endowment tem um paralelo direto com a cerimônia Maçônica, um fato claro e evidente para os participantes. Até mesmo o templo de Nauvoo tem, em sua frente, uma escultura que é um símbolo maçom (foto acima)

Smith explicou à seus seguidores que a Maçonaria era um remanescente - mesmo que modificado - do sacerdócio antigo que Deus lhe havia incumbido de restaurar. Por sua vez, todos os homens proeminentes da Igreja Mórmon tornaram-se um Mestre Maçom em Nauvoo.

Outro elemento incomum entrou na “matriz de criatividade” de Smith por volta deste período. De suas associações com cerimônias mágicas e, em seguida, com a maçonaria, Smith tinha quase certamente ouvido falar na "cabala". Em 1841, um judeu criado na fronteira polonesa da Prússia, educado na Universidade de Berlim, e familiarizado com a Cabala, entrou para a Igreja mórmon, migrou para Nauvoo, e lá tornou-se frequente companheiro de Smith e professor em hebraico.

Certa documentação veio recentemente à luz, sugerindo que este indivíduo, e não Alexander Neibaur, não só conhecia a Cabala mas provavelmente possuía uma cópia do texto clássico da Cabala, o Zohar, em Nauvoo. Joseph provavelmente tornou-se familiarizado com o Zohar, enquanto sob a tutela de Neibaur. Na verdade, em 7 de abril de 1844,  a declaração pública de Smith sobre a pluralidade de deuses é apoiada por uma exegese das primeiras palavras em hebraico do Gênesis (Bereshit bara Elohim), extraídos da seção de abertura do Zohar.[5]

Durante o período pós 1841, Joseph introduziu a prática do “casamento celestial” plural - que mais tarde evoluiu para poligamia em Utah – mas apenas para um pequeno grupo de seus seguidores confiáveis. Nesta época não só os homens, mas algumas mulheres - como Lucinda - secretamente tinham um cônjuge "plural".

O casamento sagrado ritualizado por Smith foi uma união transformadora que ungia homens e mulheres a se tornarem "os sacerdotes e sacerdotisas", "reis e rainhas" e, finalmente, Deusa e Deus - a substância dupla criadora da Divindade no intercurso eterno e tântrico. A cerimônia era realizada no recinto mais sagrado de seu novo templo.

No final de 1843 Joseph revelou várias extensões ritualísticas para o “endowment", todos incorporados na cerimônia dos Templos mórmon. Este legado de rituais iniciatórios misteriosos revelados por Joseph Smith, entre 1842 e 1844, permanece (mas alterado) como o núcleo sagrado do mormonismo.

Cinquenta anos depois, no final do século XIX, os líderes da igreja de Utah ocasionalmente falariam, de forma privada, que o ritual no templo mórmon era "a verdadeira maçonaria" - um fato desconhecido para a maioria dos mórmons modernos. Mesmo os mórmons bem-educados de hoje raramente compreendem as origens do compasso e do esquadro bordados no peito do garment usado pelos “iniciados” no templo. A relação da introdução destes rituais do templo com a visão de Joseph Smith do ocultismo e da introdução simultânea da maçonaria em Nauvoo é alvo de intenso interesse.

No Outono de 1994, as peças do quebra-cabeça que compõe Joseph começaram a se encaixar: um padrão foi descoberto dentro desta matriz incomum de informações históricas.

A busca de Joseph Smith por um tesouro de ouro e sagrado, enterrado na terra escura, o seu envolvimento com cerimônias mágicas, as visitações angélicas, os textos pseudepigráficos ele "traduziu", sua declaração de que a maçonaria seria um resquício do sacerdócio, e sua restauração de um templo com o mistério central no casamento sagrado - todos podem ser encaixados em um contexto recentemente reconhecidas: Hermetismo.

Não só Smith tem inúmeras associações documentadas com heranças históricas do hermetismo, como a magia e a maçonaria, mas sua criação religiosa também evidencia diversos paralelos com idéias herméticas. John L. Brooke, professor de história na Tufts University, explorou este tema em 1994 em um estudo do mormonismo e Hermetismo, The Refiner's Fire: The Making of Mormon Cosmology, 1644-1844.[6]

 Brooke observa os “paralelos notáveis entre os conceitos Mórmon de igualdade da matéria e do espírito, do convênio do casamento celestial, de um objetivo final [de atingir a] divindade humana e das tradições filosóficas da alquimia e Hermetismo, elaborados a partir do mundo antigo e fundido com o cristianismo no Renascimento italiano."

Certamente a leitura poética de Joseph Smith como um "gnóstico" feita por Harold Bloom, assume nuances amplificadas: embora despercebido por Bloom, a imaginação de Smith na invenção de uma religião estava aliada, de várias maneiras, com remanescentes de uma tradição hermética frequentemente ligada ao gnosticismo.

Quando ainda jovem, na companhia de caçadores de tesouros ocultos, desenhando círculos mágicos e lutando contra encantamentos no interior da Pensilvânia, Joseph Smith provavelmente sobre desta visão religiosa alternativa e pouco puritana. Smith pode até ter ouvido a velha lenda da Rosacruz, sobre um profeta de dezesseis anos de idade chamado Christian Rosencreutz e o misterioso livro M, que ele havia traduzido.

Certamente ele teria aprendido sobre os mistérios da transmutação alquimica e da Pedra Filosofal. Logo depois, aos dezoito anos de idade, Smith encontrou seu próprio tesouro sagrado enterrado, um tesouro de ouro e ainda - como promete a tradição alquímica – de uma substância mais sutil que o ouro vulgar. Olhando para a sua “pedra de vidente”, que viu nas placas de ouro do livro de Mórmon um registro de antigas oposições e um Cristo que trouxe a união.

Por uma década, Brooke sugeriu que a teologia hermética emergente de Smith foi disfarçada sob a coloração de restauração do cristianismo tradicional e formada como uma nova igreja cristã. Mas, finalmente, nos últimos anos de sua vida, a verdade foi exposta: em Nauvoo, ele publicamente e inequivocamente anunciou sua nova teologia de espíritos preexistentes, a unidade de matéria e espírito, a divinização dos fiéis, e prosseguida, em particular, com a consumação do casamento alquímico-celeste como o último passo para esta divindade. O termo alquímico-hermético de coniunctio resume poderosamente as convicções que Smith havia alcançado em Nauvoo, por volta do verão de 1844.

Ele estabeleceu uma teologia de conjunção - de unificação - dos vivos e dos mortos, dos homens e mulheres, de material e espiritual, secular e sagrado, todos unidos em um "novo e eterno convênio", sobre o qual ele presidiria como rei e deus. Nestas circunstâncias, os limites convencionais entre pureza e perigo, certo e errado, lei e revolução, simplesmente desapareceram .... De fato, a maior experiência mórmon pode ser vista como experiência meta-alquímica, indo da oposição para a união, uma experiência formada e realizada de acordo com a personalidade de Joseph Smith.[7]

Como essa estranha religião hermética evoluiu para a igreja mórmon de hoje é uma das questões mais interessantes e que ainda tem muito a ser explorada. No entanto, aqui daremos apenas um resumo aproximado do que se seguiu à morte de Smith.

Joseph não estabeleceu uma ordem clara de sucessão profética, e no período caótico após sua morte, vários seguidores alegaram o seu ofício de profeta. Brigham Young, que foi por um longo período um apóstolo fiel a Smith, emergiu como o líder da organização e acabou por ser proclamado o "profeta novo, vidente e revelador" - uma posição que ocupou até sua morte, três décadas mais tarde. Forçado a abandonar Nauvoo, no inverno de 1846, Brigham Young conduziu seu povo através de uma difícil jornada para o vale do Grande Lago Salgado, e ali organizou uma nova sociedade mórmon.

Young defendeu firmemente os ensinamentos e rituais apresentados por Smith em Nauvoo, incluindo as cerimônias do templo e as doutrinas relativas à poligamia. Isolado no deserto das Montanhas Rochosas, ele esperava realizar os sonhos de Joseph e estabelecer Sião longe de um mundo hostil e desentendido.

Mas não era para ser. Com a força total do governo dos Estados Unidos e uma moralidade pública vitoriana dirigidos contra a Igreja Mórmon, em 1890, a prática da poligamia teve que ser publicamente abandonada. Após a sua derrota nesta batalha memorável, o mormonismo lentamente encontrou uma acomodação no mundo que havia fugido. No processo, muitos elementos da religião misteriosa de Joseph foram necessariamente encobertos ou atenuados - e no final do século XX, talvez em grande parte esquecidos.

UM JOSEPH SMITH GNÓSTICO?

A união entre Joseph Smith com a tradição gnóstica, feita por Harold Bloom, tem suscitado divergências entre os estudantes do mormonismo e do Gnosticismo.

Várias questões cruciais aos modernos estudos gnósticos são levantadas por estas idéias emergentes: Qual é a relação entre o movimento "gnóstico" antigo com  o gnosticismo clássico? Os rudimentos da tradição foram transmitidos aos grupos pós-clássicos por laços históricos (transmissão oral, mitos e textos); ou, foi este um produto independente do um tipo repetitivo de visão? Ou são duas forças de transmissão histórica e experiência gnóstica primária geradas interdependentes, ou mesmo ocultamente ligadas?

Embora Joseph Smith tivesse uma ligação histórica com os remanescentes do gnosticismo veiculados pelo Hermetismo e Cabala da Renascença, sua criação religiosa claramente vem, em grande parte, de uma experiência pessoal. Sua criatividade primária foi "gnóstica"? Se sim, como se relaciona com a matriz da tradição?

A complexidade dessas questões desafiam declarações simplistas. No entanto, Smith de fato expôs temas familiares ao Gnosticismo - proeminente dentre eles sendo sua a afirmação da realidade e necessidade de revelação individual e contínua como fonte de conhecimento para a salvação.

Joseph Smith e sua religião evitaram a teologia, favorecendo o processo dinâmico da revelação. O resultado foi melhor resumido no que Bloom observou ser "um dos sermões realmente notável já feito na América", um discurso proferido pelo Profeta em 7 de abril de 1844. Conhecido como o discurso King Follett, ele foi o último sermão importante de Joseph para a sua igreja, feito apenas dez semanas antes de sua morte.

"Há muito poucos seres no mundo que entendem corretamente o caráter de Deus", começou. "Se os homens não compreendem o caráter de Deus, eles não compreendem o seu próprio caráter." Na humanidade existe uma centelha imortal da inteligência, declarou, a semente da inteligência divina ou luz, que é "tão imortal quanto, e tem a mesma condição que o próprio Deus." Deus não é, entretanto, para ser entendido como única e singular. Voltando-se para hebraico e uma estranha exegese cabalística das três primeiras palavras de Gênesis (uma exegese provavelmente tirada diretamente do Zohar), Smith pronunciou que há uma infinidade de deuses emanados do Primeiro Deus, existindo um acima do outro sem fim. Aquele que a humanidade chama de Deus fora uma vez um homem, e o homem, através do avanço em inteligência, conhecimento -consciência - poderá ser exaltado com Deus, tornar-se como Deus.

Próximo do início do seu ministério, em 1833, Smith declarou que "a glória de Deus é a inteligência", eterna e não criada. Aqueles que desejam encontrar em Joseph um gnóstico, têm apontado que Smith usou a palavra "inteligência" como sinônimo de "conhecimento" em seus escritos proféticos durante este período. De fato, eles sugerem, as suas palavras possam ser lidas poeticamente para proclamar que a glória de Deus é Gnose - Gnose que salva uma mulher e um homem, levando-os juntos para um Eu único, não-criado e intrinsecamente divino.

Veja o vídeo sobre ocultismo e Joseph Smith AQUI (youtube)



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Notas

1 - Robert Lindsey, A Gathering of Saints: A True Story of Money Murder and Deceit (New York: Simon and Schuster, 1988) -68-69, 81, 100-106.
2 - See Linda Sillitoe and Allen Roberts, Salamander: The Story of the Mormon Forgery Murders (Salt Lake City: Signature Books, 1988); Steven Naifeh and Gregory White Smith, The Mormon Murders (New York: Weidenfeld & Nicolson, 1988).
3 - Smith's associations with occult traditions in early America, including extensive documentation of events discuss here, are comprehensively detailied in D. Michael Quinn, Early Mormonism and the Magic World View (Salt Lake City: Signature Books, 1987). For a interpretive reading of this history see Lance S. Owens, "Joseph Smith Kabbalah: The Occult Connection", Dialogue: A Journal of Mormon Thought 27 (Fall 1994): 117-194.
4 - Joseph Smith's and his religion's interactions with the Masonic tradition are fully documented in Michael W. Homer, "'Similarity of Priesthood in Masonry': The Relationship between Freemasonry and Mormonism", Dialogue: A Journal of Mormon Thought 27 (Fall 1994): 1-113.
6 - John L. Brooke, The Refiner's Fire: The Making of Mormon Cosmology, 1644-1844 (New York: Cambridge University Press, 1994).

7 - Brooke, 281.